Ternos e suas heranças

Se terno não é tudo igual, as diferenças significativas de um terno para outro podem revelar qual a herança de cada um deles! Por conta das suas tradições em alfaiataria, os estilos britânico, italiano e americano conseguem ser facilmente identificados pelas suas silhuetas.

 

Cada uma destas tradições apresenta diferentes formas e dimensões, e por isso é interessante conhecer cada uma delas, escolhendo a herança mais adequada para cada tipo físico. Um terno slim fit, escolhido por muitos homens, pode se encaixar em qualquer uma destas heranças. No Brasil, há uma preferência pela alfaiataria italiana, mas é comum que uma mesma loja venda ternos das três tradições. Por isso, é sempre interessante saber como identificar cada uma das três heranças.

HERANÇA BRITÂNICA

A herança (ou tradição) britânica é percebida naqueles ternos com mais estrutura, com o paletó bem ajustado junto ao tronco e na cintura, com foco moderado nos ombros mas destacando a área do tórax. Estes ternos destacam os ombros fortes e a cintura definida. Os paletós da tradição britânica costumam apresentar fendas laterais um pouquinho armadas, para criar um pouco de volume no quadril. Tudo isso faz sentido quando pensamos no homem médio britânico, que costuma não ter muito quadril. Os paletós podem ter abotoamento simples ou duplo (double-breasted). A costura dos ternos de herança britânica não é aparente nem nas mangas e nem nas calças de caimento reto, com tecidos mais pesados que conferem ao terno um visual firme, digno da realeza. Esta herança tem forte influência dos uniformes militares, com o paletó mais longo e bem ajustado, o que cria, de maneira sutil, uma silhueta ampulheta. Ternos com abotoamento duplo costumam ficar ótimos para homens muito magros, pois criam uma silhueta mais forte no torso.

Os ternos da Burberry respeitam claramente esta tradição, e os filmes Kingsman também celebram a herança britânica nos figurinos dos personagens de Colin Firth (Harry Hart) e Taron Egerton (Eggsy).

HERANÇA ITALIANA

A herança (ou tradição) italiana é muito diferente, e em geral tem um caimento mais relaxado do que os ternos de tradição britânica. Esta tradição também é conhecida como continental e costuma valorizar as tendências de moda em alfaiataria. Estes ternos são modernos e apresentam uma silhueta muito estilosa. Os ombros tem uma estrutura menos rígida, e há uma ênfase na cintura. Os paletós abotoam criando um claro formato V. Originalmente, os paletós italianos não tinham fendas, mas a tradição foi atualizada com 2 fendas. Os tecidos costumam ser mais leves, e de alta qualidade, como seda e cashmere. As mangas dos paletós são mais curtas, deixando os punhos das camisas bem  mais aparentes do que os ternos britânicos, mas menos do que os americanos. As calças italianas tem a cintura afinada, mais justas ao corpo e com a bainha mais curta, geralmente deixando os tornozelos à mostra. Os ternos italianos geralmente seguem as tendências da estação, e podem não ter tanta durabilidade.

A grife Dolce & Gabbana é uma referência importante na alfaiataria de herança continental. Um estilista que combina a tradição britânica à tradição italiana com maestria é Tom Ford, escolhendo os melhores atributos de cada herança e misturando-os para criar belos ternos.

HERANÇA AMERICANA

A herança (ou tradição) americana tem tem origem no século XIX, a partir do trabalho dos alfaiates  das lojas Brooks Brothers e J. Press. Os ternos atuais derivam das décadas de 1920/1930, bastante largos e com caimento muito reto, o que torna fácil notar que há um excesso de tecido numa silhueta nada marcada.

Os paletós dão grande visibilidade aos colarinhos e punhos das camisas. Em geral, os paletós que carregam esta herança tem abotoamento simples, com 2 ou 3 botões. Os ombros não são nada destacados, e nem sempre estes paletós tem ombreiras ou mesmo ênfase na cintura. Prezando pelas linhas retas, os bolsos também apresentam abas retas. As gravatas mais grossas são características desta tradição. A herança americana preza muito pelo conforto e, ao longo dos anos, nota-se uma pequena adaptação no caimento para que ficasse mais ajustado, ainda que continue com linhas bastante retas. Homens do tipo físico largo ficam ótimos em ternos de herança americana.

Notem o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, com um terno de herança americana ligeiramente slim fit: há uma sobra de tecido notável nas mangas, as lapelas são bem grossas, não há um V definido pelo abotoamento, e o colarinho da camisa está em destaque.

E O BRASIL?

No Brasil, o principal estilista de alfaiataria é Ricardo Almeida, que tem forte influência da herança italiana. Os ternos da Vila Romana, Brooksfield e Via Venetto, entre outras lojas brasileiras especializadas em roupa masculina, também costumam priorizar a alfaiataria continental.

Em terras tupiniquins, é mais comum encontrarmos ternos de tecidos de fibra sintética, como o poliéster, ou, quando são de fibra natural, de lã fria – ou mesmo uma composição mista de fibra sintética com fibra natural.

Os ternos de lã fria são classificados de acordo com a espessura dos fios: os fios Super 100 tem as tramas mais grossas, passando pelos fios Super 120, Super 130, Super 150 e, finalmente, o Super 180, que tem a trama mais fina o que, consequentemente, proporciona mais conforto e confere um melhor caimento. Tá aí mais um exemplo da importância de prestar atenção na etiqueta de composição!

3 respostas para “Ternos e suas heranças”

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