O paradoxo da escolha e o nosso armário

O psicólogo norte-americano Barry Schwartz escreveu o livro “O paradoxo da escolha – por que menos é mais”, publicado em 2004, argumentando que eliminar as opções de escolha do consumidor pode diminuir a ansiedade durante as compras, analisando o comportamento de diferentes tipos de personalidades – de modo particular, os acumuladores e os minimalistas.

O estudo de Schwartz deriva de diversos campos da psicologia moderna que investigam como a nossa felicidade é afetada pelo sucesso ou pelo fracasso. Naturalmente, a autonomia e a liberdade de escolha são fundamentais pro nosso bem-estar, do mesmo modo que a possibilidade de escolher é necessária para a liberdade e a autonomia. No entanto, de acordo com Schwartz, a explosão nas opções para escolha – desde as coisas mais mundanas até os desafios profundos de equilibrar as demandas de família, carreira e necessidades individuais – paradoxalmente se tornou um problema ao invés de uma solução, e a nossa obsessão com as múltiplas opções nos encoraja a procurar aquilo que faz mal pra nós mesmos.

E por que estou sucintamente trazendo o paradoxo da escolha pra nossa discussão? Porque a tese de Schwartz pode muito bem se aplicar ao nosso armário e ao nosso vestir diário.

Para além das fases estratégicas na tomada de decisão (entender qual é o seu objetivo ou quais são seus objetivos; avaliar a importância de cada objetivo; classificar as opções; avaliar a probabilidade de cada opção facilitar a realização dos objetivos; escolher a opção vencedora; e modificar os objetivos), que podem ser aplicadas na estratégia de imagem, me parece haver um paralelo muito claro entre o paradoxo da escolha e um armário lotado de uma pessoa que nunca sabe o que vestir.

Acontece que, no nosso armário ou em outros aspectos da nossa vida, quando existe desordem e não temos clareza do que queremos, há uma grande chance de vivermos uma grande confusão mental, e não conseguirmos sentir tranquilidade e felicidade. Eu continuo defendendo que o ato de vestir-se deve ser, sim, um momento de alegria, de felicidade, de diversão e expressão de quem somos, de exercício de criatividade – independentemente do seu estilo.

Eu, por exemplo, noto que, desde que casei e, principalmente, desde que saímos do Brasil e começamos a ter uma vida mais “nômade”, eu senti necessidade de “acalmar” meu armário. Nos meus primeiros 25 anos de vida, eu morei em Niterói (RJ), e a tropicalidade da praia “logo ali” influenciava muito os meus looks enquanto eu descobria do que eu realmente gostava. Quando eu olho as fotos da Letícia mais nova, eu me reconheço muito mais na minha fase mais rock ‘n roll do que nas roupas de muitas cores vibrantes – hoje, pelo conhecimento que tenho, eu sei que isso tem 100% a ver com o fato da minha cartela ser invernosa.

No meu caso, eu notei o início da minha mudança de estilo quando eu ficava entre RJ-Brasília, e precisava de um armário que funcionasse bem pras duas cidades, que tinham vibes completamente diferentes. As estampas foram saindo e abrindo espaço pras roupas de cores sólidas, numa paleta que foi sendo aperfeiçoada com o tempo. A partir da mudança pro exterior, a minha mudança de estilo também foi mais drástica porque, além de tudo, eu tinha que adotar vestimentas adequadas ao inverno de verdade – coisa que eu nunca tinha vivenciado, a não ser em viagens.

Hoje, na vida “nômade”, eu sinto que me sinto muito mais segura pra enfrentar os desafios do dia a dia (que não são poucos) porque eu não preciso me preocupar com o que vestir: meu armário é composto de básicos de boa qualidade, numa paleta de cores coerente e que me favorece (com poucas estampas e, na sua maioria, clássicas), e eu tento fazer uma edição constante do que continua fazendo sentido pra mim e o que já não atende meu lifestyle.

Quando a gente elimina do nosso guarda-roupas tudo o que não funciona pra nossa rotina e estilo de vida, a gente diminui a ansiedade na hora de se vestir, consequentemente começando o dia de forma mais leve. Do mesmo modo, eu bato na mesma tecla pra qualquer nova compra: a gente deve sempre considerar a rotina e estilo de vida individual pra ter certeza de que qualquer nova peça que venha fazer parte do nosso armário atenderá as nossas necessidades, sem despertar ansiedades desnecessárias, além de evitar desperdício de recursos com compras desnecessárias.

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