Montando looks pra não morrer de frio

Há alguns anos, eu publiquei um post aqui pra te ajudar a saber como se vestir na chuva, no frio e na neve. Desde então, ele sempre foi um dos mais acessados do blog. Recentemente, fizemos uma viagem visitando as capitais dos países bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia) + Finlândia, e enfrentamos frio intenso, com sensações térmicas chegando aos -23ºC!!! O desafio da viagem não parava por aí, já que resolvemos viajar compartilhando uma única mala despachada, e não era uma opção levar mil casacos. Por isso, achei que era uma boa hora de atualizar as dicas de como montar looks bem quentinhos!

Nas baixas temperaturas, o look ideal é composto de peças que aquecem e que protegem contra as intempéries do outono e do inverno. Pra isso, é importante escolher com cuidado qual será o look do dia, prestando atenção nas fibras que compõem os tecidos, garantindo a proteção e o conforto térmico.

“could I be wearing any more clothes?” fonte: NBC

Não adianta fazer o Joey e colocar um monte de roupa, uma em cima da outra, porque não é o volume que garante aquecimento. Muita gente acha que a simples sobreposição de peças vai garantir conforto térmico no frio, e isso definitivamente não é verdade. O que vai te aquecer mesmo é a escolha adequada dos tecidos que esquentam e que devem ser usados no outono e no inverno. Mais uma vez, fica provada a importância de nos familiarizarmos com as fibras e lermos a etiqueta de composição das roupas! Sabendo a característica de cada tecido e sendo capazes de diferenciá-los, será mais fácil escolher as roupas que nos aquecerão de acordo com a necessidade.

De modo geral, o tecidos ideais para aquecer em dias frios são o tricô, o moletom, o fleece, os pelos sintéticos, o nylon, e as malhas térmicas de microfibra. Todos esses tecidos são isolantes térmicos, em razão das propriedades das fibras de que são feitos e também pelo modo como são feitos.

As peças em tricô, por exemplo, são feitas a partir de fios entrelaçados, formando uma camada eficiente de isolamento térmico. Os tricôs podem ser feitos em diferentes gramaturas e a partir de diversas fibras, sejam elas naturais ou sintéticas. Os tricôs feitos de lã natural podem ser mais ou menos quentes – a lã merino, a lã de alpaca e a cashmere são as lãs mais quentes e também as mais finas. A cashmere é, na verdade, uma fibra nobre por conta da sua qualidade superior e por ser muito macia. É muito comum encontrarmos tricôs feitos a partir de uma combinação de materiais como, por exemplo, a lã (condutora de calor natural) com fibras sintéticas (potencializadoras do isolamento térmico). Por sua vez, tricôs de algodão ou puramente sintéticos vão aquecer menos do que aqueles feitos a partir das lãs. É por isso que 01 bom suéter de lã – preferencialmente merino, de alpaca ou cashmere – é um investimento mais inteligente do que vários de fibra(s) sintética(s). Nesta última viagem congelante, eu levei 4 suéteres: 3 de cashmere e 1 de lã.

Outro tecido indispensável no inverno é o moletom. Geralmente as peças de moletom se encaixam melhor no estilo esportivo/casual, mas também podem fazer parte de looks criativos ou fashionistas, já que os moletons invadiram as passarelas nos últimos tempos. O moletom é uma peça bastante urbana e, consequentemente, é mais difícil de encaixar esse tecido num look elegante ou clássico; entretanto, não é impossível criar um look sofisticado usando moletom – tudo depende do styling. Esse tipo de tecido não transita bem em ambientes de trabalho por ser excessivamente casual – a menos que você trabalhe num ambiente bastante despojado/criativo/moderno -, mas é ideal para aquecer no inverno, principalmente nos momentos de descanso, ou mesmo pra viajar com conforto.

Enquanto alguns moletons sejam desenvolvidos a partir de materiais apropriados pra proporcionar um maior aquecimento, essas peças não são adequadas pra dias de frio intenso ou mesmo pra realizar esportes na chuva ou na neve. Nesse caso, é mais adequado optar pelo fleece, que é um tecido tecnológico com isolamento térmico bastante eficaz.

Roupas em fleece oferecem uma proteção térmica muito alta, e esse tecido pode ser usado em pijamas, robes, acessórios, blusas e calças – inclusive adequadas para esportes. Na verdade, muitas das roupas usadas nos esportes na neve costumam ser revestidas de fleece que, além de isolar termicamente, é muito leve, seca rápido, tem toque macio e oferece proteção contra raios UV. A gramatura do fleece vai determinar o nível de aquecimento da peça: quanto mais espesso, mais adequado pra temperaturas mais baixas. Já é possível encontrar, em algumas marcas especializadas, roupas térmicas forradas de fleece.

No Brasil, é proibido o uso de pelos animais em eventos de moda, e a sua comercialização é proibida em Israel. Os pelos sintéticos imitam os pelos naturais e são uma alternativa mais sustentável para nos aquecer mantendo a maciez que toda roupa de inverno deveria ter. Os pelos sintéticos podem ser usados como material principal de roupas de inverno, e são ideais pra forrar casacos, gorros e calçados.

Por conta das suas propriedades impermeáveis, o nylon e o poliéster, que são fibras sintéticas, são materiais ideais para proteger contra os agentes externos. Por isso, muitos casacos de neve são feitos a partir do nylon e do poliéster, principalmente os modelos gnomos e puffer (também apelidados por mim como “casacos do boneco da Michelin”) que, por sua vez, podem ser forrados de fleece ou pelos sintéticos, ou ainda revestidos de uma camada isolante térmica (quase sempre em poliéster). Essas fibras também são muito usadas nas roupas feitas para atividades esportivas na neve; o nylon absorve pouca umidade e seca rápido. Assim, o nylon e o poliéster funcionam como uma camada protetora, barrando as intempéries que poderiam prejudicar o aquecimento que as camadas internas proporcionam. Mas atenção: o nylon não garante o aquecimento necessário se for usado sozinho! Por isso, é importante que ele esteja combinado com outros materiais no forro e enchimento pra garantir o aquecimento e a proteção necessárias.

Agora, se você é friorento/a como eu, será difícil passar por temperaturas mais baixas sem ter que recorrer às roupas térmicas. Naquele post de anos atrás eu já dei a dica das roupas térmicas, e continuo batendo na mesma tecla de que não acho possível sobreviver ao inverno sem elas. As minhas favoritas são as da Uniqlo, que tem 3 opções de “quentura” nas linha Heattech (normal, extra warm e ultra warm). Mas também é possível encontrar roupas térmicas em lojas especializadas no Brasil.

As roupas térmicas geralmente são feitas com microfibras de poliéster, que garantem conforto térmico sem adicionar volume pois são bem ajustadas ao corpo. Como eu já falei várias vezes por aqui, o poliéster é uma das fibras que mais esquentam, já que impede a troca de calor com o ambiente. Portanto, é difícil fugir dessa fibra se o objetivo é manter-se aquecido. Um dos motivos de gostar tanto da linha Heattech da Uniqlo é que essas roupas térmicas costumam ser feitas a partir de uma composição de fibras ao invés de usar só poliéster. Recentemente (deve ter uns 2 anos mais ou menos), a Uniqlo lançou uma linha Heattech Cotton, que substitui o poliéster por algodão na composição do tecido. Eu adorei isso, porque eu tenho alergia às fibras artificiais e sintéticas, e não tem um único inverno que a minha pele não sofra por conta do uso repetido de roupas térmicas. Eu já testei as blusas dessa linha com algodão e aprovei, até porque costumo usar pelo menos uma segunda camada por cima da roupa térmica, antes de colocar o casaco. No entanto, ainda acho que, pro frio extremo, as peças da Heattech Cotton perdem no quesito “quentura” para as linhas que contém poliéster na composição.

E por falar em camadas, vou usar esse gancho pra dar as dicas de como “organizar” seu look pro frio, pensando em cada camada de roupa que vai nas produções mais quentinhas. De modo geral, podemos pensar em três camadas, mas essas camadas podem ser inadaptadas de acordo com sua programação e com a intensidade do frio.

A primeira camada será a base do seu look, aquela que estará em contato direto com a sua pele. É essa base que vai garantir o seu conforto térmico; por isso, é importante escolher roupas feitas com tecidos que favoreçam a manutenção do aquecimento. A primeira camada costuma ser das roupas térmicas, que também podem ser chamadas de segunda pele. Geralmente, essas roupas são feitas com tecidos tecnológicos que retém o calor do corpo, mantendo seu aquecimento (consequentemente, evitando a hipotermia, que não é legal!).

Em dias de frio ameno, a primeira camada pode ser dispensada – tudo depende do quão friorento você é. Particularmente, quando baixa dos 15ºC eu já não consigo sair de casa sem pelo menos uma calça térmica, nem que seja das mais finas. Por isso que é importante prestar atenção nas diferentes espessuras das roupas térmicas disponíveis: pra escolher aquela que é mais adequada pra intensidade do frio e ocasião.

A segunda camada de roupa cumprirá dupla função: além de oferecer isolamento térmico, será aquela que provavelmente você vai “mostrar pro mundo” quando entrar nos ambientes aquecidos (museus, teatros, restaurantes, etc). Essa camada vai impedir que o frio entre e que o calor do corpo saia, por isso é importante escolher bem os itens que vão compor o seu look do dia. Se você optar por uma segunda camada feita de fibras frias, infelizmente será difícil manter a temperatura corporal, e há chances de que você sinta um frio bastante incômodo.

Nessa segunda camada, é sempre bom optar por um suéter quentinho – se for um tricô, dê preferência àqueles com a trama mais fechada (pra impedir que o frio “entre”). Se for o caso, dá pra fazer uma composição com camisa + suéter, que fica super arrumadinha. Se você for uma pessoa mais esportiva, ou se a intenção for ficar super confortável, o moletom e o fleece podem brilhar nessa segunda camada – sejam como conjuntinho ou em outras combinações. Esses tecidos serão seus amigos se a programação do dia incluir alguma atividade física ou muitas horas de exposição ao frio. Uma boa opção também é recorrer à calças de veludo – seja liso ou cotelê – pra segunda camada.

Como eu já disse, eu sou muito friorenta, e eu sofro com frio nas pernas. Passei muitos anos usando 2 ou 3 calças térmicas, uma por cima da outra, porque minhas pernas vivem geladas (os pés também). Isso mudou quando eu descobri uma calça da Uniqlo, da linha Heattech, que não só é forrada de fleece como é feita de tecido resistente às intempéries. Eu amo tanto essa calça que eu tenho “estoque”, pra não correr risco da Uniqlo tirar ela de linha e eu ficar sem minha salvação!! Não é exagero: sem essa calça, eu jamais teria aguentado viajar por duas semanas com sensações térmicas abaixo de -20ºC.

A segunda camada também vai variar de acordo com o frio. Num frio mais ameno, ela pode até ser a única camada do seu look. No Hemisfério Norte, muitas vezes as pessoas se referem ao começo do outono como a época do “sweater weather”, que podemos chamar de “temporada do suéter”: é aquele período em que ainda não tá frio suficiente pra usar a terceira camada mas dá pra investir em suéteres mais pesados, deixando-os brilhar no look. Mas se o frio for intenso, vai por mim: melhor usar a terceira camada também.

E por falar nela, a terceira camada será o casaco ou jaqueta que vai ajudar a barrar o frio nas suas andanças por aí. A terceira camada pode cumprir diversas funções: se o frio estiver seco, num dia de sol, dá pra optar por casacos de lã; mas se o frio vier acompanhado de chuva/neve, é melhor escolher uma terceira camada que funcione como barreira pra esses agentes externos. Afinal, uma das piores coisas é ficar molhado no frio! Não vai adiantar nada escolher certinho a primeira e a segunda camada pra te proteger do frio se você não protegê-las da umidade.

É por isso que os casacos puffer/gnomo/boneco da Michelin são tão populares no frio intenso: eles oferecem essa barreira protetora contra chuva/neve/vento, impedindo que você sofra de frio. Mais uma vez, eu tenho que defender a Uniqlo (quem dera isso fosse publi!), que tem a linha Ultra Light Down com diversas opções de jaquetas/parkas pra enfrentar esses agentes externos com peças levíssimas e eficazes, e que não ocupam espaço quase nenhum na mala.

Entretanto, nessa última viagem nossa, quem me salvou foi um casaco puffer da Columbia – outra marca excelente para roupas impermeáveis ou resistentes à água e excelente isolamento térmico. O casaco que eu escolhi foi da linha Omni-Heat Infinity Gold, que prometia resistir até às mais baixas temperaturas. Apesar desse nome que parece coisa das Organizações Tabajara, o casaco não decepcionou: eu realmente não sentia frio NENHUM nas partes do corpo protegidas pelo casaco!! Tenho certeza de que só aguentei a aventura porque estava adequadamente equipada – embora, confesso, eu já estivesse enjoada de usar o mesmo casaco initerruptamente por mais de 2 semanas seguidas!!

na neve em Riga, registro da combinação campeã da viagem: casaco Columbia + calça Uniqlo + botas UGG. neste dia, estava com gorro e cachecol comprados na Escócia.

Aí você pode me perguntar: “Letícia, e os acessórios?“ Bem, eles ficam em algum lugar entre a segunda e terceira camada, porque você pode querer usá-los com ou sem casaco. Sapatos, cachecóis, luvas e gorros também vão variar de acordo com as temperaturas. Se o frio for muito intenso, o cachecol deverá ter uma trama mais fechada, e a luva precisa ser mais grossa, ou até mesmo impermeável. Peças em lã serão as mais confortáveis, sem dúvida alguma.

Por sua vez, os sapatos e meias também precisam isolar termicamente: ninguém merece ficar com os pés congelados! Na minha opinião de friorenta, as meias de lã são imbatíveis. Se não estiver muuuuito frio, você não vai precisar de sapatos forrados, embora talvez seja necessário usar pares impermeáveis ou, pelo menos, resistentes à água. Se o frio for intenso, o ideal é usar sapatos forrados & impermeáveis. As botas costumam ser a melhor opção porque protegem também os tornozelos – e, dependendo da altura escolhida, protegem também panturrilha e joelhos, funcionando como uma camada extra.

Eu sinto MUITO frio nas pernas e nos pés, por isso eu acho realmente difícil montar looks invernais com saias/shorts sem congelar. Se for uma saidinha rápida pra jantar ou algo assim, sem que eu fique muito tempo exposta ao frio, até dá pra montar um lookinho de saia com uma meia calça bem grossa (às vezes até com calça térmica por baixo da meia calça), e botas. Mas se for pra bater perna o dia inteiro e ficar muito tempo ao ar livre, pode ter certeza de que minhas escolhas serão calças bem quentinhas!!

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Letícia tostes

De Niterói para o mundo e com uma curiosidade incessante, tenho fome de conhecimento. A consultoria de Imagem e Estilo Pessoal me instiga a investigar a fundo os gostos pessoais que influenciam o modo de cada pessoa se vestir e escolher suas roupas. Minha missão é solucionar dilemas de estilo para deixar a sua vida mais simples e injetar confiança no seu dia a dia. Meu objetivo principal é transformar você na sua melhor versão, respeitando a sua personalidade, suas preferências e sua essência.