Eu queria refletir, de modo um pouco mais aprofundado, sobre o estilo francês, sobre esse je ne sais quoi que encanta tanto e que desperta tanto desejo. Eu não sou a maior especialista no assunto, mas sempre fui muito observadora e nunca perdi a oportunidade de reparar nos franceses nas vezes em que na terra deles estive. Além disso, já li uma parcela (jamais suficiente) de literatura sobre moda e estilo francês, tendo notado que um tema recorrente como característica marcante do estilo de vida deles é o bem-estar (bien-être), o sentir-se bem na sua própria pele (bien dans sa peau).
Se você já viu um francês/uma francesa porque esteve na França presencialmente ou por meio de filmes e séries, convido a uma breve reflexão: qual é a primeira imagem que vem a sua cabeça? Com certeza não é uma boina vermelha, porque isso, sim, é um clichê daqueles (não é que não exista, mas é algo demasiadamente caricato). Se eu fecho os olhos e me lembro de Paris, eu imediatamente me transporto para os parques e jardins espalhados pela cidade. Temos, aí, a primeira grande marca do bien-être: a conexão com o ar livre e, diretamente ligado a isso, o exercício físico praticado de modo inconsciente.

Na França, academias não fazem muito sucesso. Pra que ficar numa esteira, por exemplo, se você mora num prédio de escada, se pode subir e descer as escadas do metrô, se pode caminhar pelas ruas entre um compromisso e outro? Em Paris, como em outras cidades europeias, elevador é artigo de luxo – no prédio em que moramos, por exemplo, temos um elevador minúsculo, para apenas 2 pessoas, e que não chega exatamente até nosso andar, precisando subir sempre “meio lance” de escada (sim, prédios na Suíça, ou pelo menos em Berna, são estranhos). Da mesma forma, contratar alguém para desempenhar as tarefas domésticas é algo absolutamente restrito a uma camada muito rica da sociedade. E quem nunca entendeu que uma bela faxina em casa é um excelente exercício físico, está perdendo uma bela oportunidade!
E, por falar em caminhar, a mulher francesa jamais usará um sapato que não lhe seja absolutamente confortável e adequado para as suas tarefas diárias. Salto no dia a dia? Esqueça. Se parte do je ne sais quoi francês é o bien dans sa peau, jamais faria sentido usar peças no vestuário que possam limitar ou até mesmo atrapalhar os seus movimentos.
Vamos voltar um pouquinho no tempo e pensar, por exemplo, em Mademoiselle Chanel e na icônica bolsa Chanel 2.55: Gabrielle estava cansada de ter que carregar bolsas nos braços e decidiu criar um modelo que deixasse as suas mãos livres. É muito interessante pensar que, como marca, a Chanel sempre prezou pelo conforto feminino, e algumas fontes dizem que as bolsas transpassadas usadas por militares nos anos 1920 inspiraram o design da bolsa Chanel 2.55 (que leva esse nome por conta do mês e ano de sua criação: Fevereiro de 1955. E, imagine só: este modelo custava apenas USD220 naquela época!). Com esta criação, Coco Chanel revolucionou a história das bolsas femininas: pela primeira vez na história, era aceitável que mulheres de determinado status social carregassem bolsas em seus ombros, deixando as mãos livres.
Estar bem na sua própria pele é, com certeza, o primeiro passo para ter uma boa autoestima, uma autoconfiança elevada. Pensando na mulher francesa, ela investe muito mais no cuidado com a sua pele do que em maquiagem. De novo, um exercício: feche os olhos por um segundo e pense nas prateleiras de produtos para skin care da sua farmácia mais próxima. Quantas marcas francesas estão ali? Tudo isso tem uma razão de ser. Se uma francesa usa maquiagem, ela não quer que você saiba que ela está usando maquiagem. Tudo é milimetricamente pensado para parecer que não foi pensado – a diferença é que elas se acostumam desde a infância a isso, aprendendo em casa, com suas mães e avós, a cuidar da pele, a sentir-se bem na própria pele.
E, por falar da pele, os franceses acreditam que a cultura deixa a pele rosada (a famosa “cara de saúde”), tanto quanto consumir produtos frescos. O interesse por arte, cultura e política permeia o dia a dia e molda todo o estilo de vida.
Por fim, pra quem acha que a unha francesinha nasceu na França e é moda entre as francesas, devo informar que elas não entendem o porquê desse tipo de pintura, nem jamais o usariam: na verdade, elas consideram que representa exatamente o contrário do chique francês…
2 respostas para “O que nunca te contaram sobre o estilo de vida francês”
Amei esse post. 😍 Eu não sabia nada sobre o estilo de vida francês, além dos clichês que a gente vê no cinema. Muito bacana o modo como eles vivem. Queria que fosse assim aqui no Brasil. Que a gente valorizasse mais essa questão de sentir-se bem na própria pele. Às vezes, parece que a única preocupação da nossa cultura é a estética e nada mais. Algumas mulheres se maquiam não simplesmente porque querem, mas porque sentem medo de não se adequarem ao padrão e tudo mais.
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Que bom que gostou do post, Emily!
Como personal stylist, minha meta sempre é tentar fazer com que cada vez mais pessoas se sintam bem na própria pele. Quando estamos confortáveis com quem nós somos de verdade, a beleza principal – aquela que vem de dentro – transcende!!
Esse blog tem por objetivo dividir o meu conhecimento, levando informações que conscientizem a todos da importância de sentir-se confortável e confiante com a mensagem que se transmite para o mundo através da nossa maneira de vestir – e, principalmente, empoderar as mulheres, já que nós somos as principais vítimas dos padrões impostos pela sociedade.
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