A série do Netflix “Emily in Paris” é, provavelmente, o assunto mais comentado do mês de outubro. Eu assisti logo que foi lançada – confesso que estava ansiosa! – e não poderia deixar de dar meus pitacos sobre alguns dos aspectos mais debatidos em torno da série.

Eu gosto bastante da Lily Collins – talvez tenha algo relacionado ao fato de termos nascido no mesmo ano – e fiquei feliz de vê-la produzindo uma série que já nasceu com potencial. Particularmente, eu adoro uma série tranquilinha assim, que tem um pouquinho de drama mas nada que me faça perder o sono – o tipo de entretenimento que eu classifico como ideal para a hora do chá.
“Emily in Paris” tem um styling discutível, diria até um pouco preguiçoso em alguns momentos. Principalmente quando se trata do figurino da personagem principal, tenho várias ressalvas – a começar pela coleçãozinha de bolsas da Chanel que a personagem desfila e não seria condizente com o paycheck que ela recebe. Por sua vez, o styling de Camille é bastante acertado para a jovem francesa cool dona do je ne sais quoi. Se você quer ter uma ideia de como a francesa se veste, é para Camille que você deve olhar, e não para Emily.
E aí que uma das muitas discussões sobre a série, e também sobre o styling, fica em torno dos clichês. O que eu acho que a gente não pode esquecer é que, em primeiro lugar, todo entretenimento também é uma alegoria, lançando uma lupa sobre coisas do cotidiano, como se a gente pudesse ver a realidade com um zoom.
Longe de mim querer me colocar como especialista no estilo francês ou estadunidense, mas já tive algumas oportunidades de observar in loco como cada uma dessas nacionalidades se veste e se porta. E, para além da observação in loco, basta olhar para as marcas estadunidenses e para as marcas com DNA francês que podemos notar as diferenças gritantes.

Emily chega em Paris pronta para viver o clichê que outras milhares de jovens (ou não tão jovens assim) estadunidenses compreendem como la vie en rose. Ninguém quer ser chamado de ringarde mas, aos olhos de um francês raiz, é isso mesmo que os estadunidenses são. E não se trata só da maneira de vestir-se, mas do lifestyle como um todo. São muitas as diferenças culturais que influenciam no estilo de cada nacionalidade. A gente não pode nunca esquecer que muito do que somos é um resultado das influências que recebemos.
Por exemplo: um francês raiz jamais vai comer em pé ou andar pela rua tomando um café, porque as refeições são entendidas como um ritual a ser seguido, diferentemente dos estadunidenses que, de tão habituados a um ritmo frenético, acham super normal beber um café (quase sempre meio frio) enquanto dirigem. Outro exemplo: os franceses e, particularmente, os parisienses prezam muito pelo conforto. O trânsito em Paris é caótico e a melhor maneira de você se locomover sempre será a pé – ou, no máximo, pegando metrô. Assim, usar roupas muito “montadas”, que exigem uma preocupação extra se está tudo no lugar, não é uma opção. Mas eles crescem assim, é uma coisa cultural. Por sua vez, são pouquíssimas as cidades estadunidenses nas quais as pessoas tem liberdade suficiente pra locomoção a pé, sendo quase sempre muito dependentes dos seus carros. A grande diferença é na maneira como cada um compreende o que é conforto: enquanto a ideia de uma roupa confortável para um estadunidense médio será, por exemplo, um conjunto de moletom, ou uma roupa larga, o francês médio prefere peças de alfaiataria com corte impecável e um bom suéter.
Pra mim, a série teve várias delícias e eu aguardo a segunda temporada. Em tempos tão esquisitos, em que eu me privo de ir mesmo ao centro de Berna pra pesquisar as novidades (ou mesmo buscar um pão que acabou antes da próxima entrega de mercado agendada), poder “andar” pelas ruas de Paris com cada episódio da série foi um deleite.
Por fim, vou deixar aqui um pequeno conto da minha última passagem por Paris (que foi muito rápida, há 8 meses atrás, mas que parece que foi em outro século): não é segredo pra ninguém que eu sou muito apaixonada pela Disney e não existe a menor possibilidade de ir pra Paris e não ir na Disneyland Paris. Na verdade, essa passagem por Paris em fevereiro, no começo das férias, só tinha mesmo esse objetivo: ir na Disneyland Paris em comemoração (atrasada) pelo meu aniversário de 30 anos; de lá, seguimos as férias pela Bélgica e Alemanha. Em função do meu aniversário, e aproveitando que estávamos de carro, eu tinha planejado fazer algumas compras audaciosas no parque: queria o Lumière, o Horloge, e a Madame Samovar com o Zip. Audaciosas porque, além de serem consideradas peças de colecionador, estavam em caixas de tamanho considerável para proteção.
Pois bem, acabou que saímos da Disneyland Paris direto pra um lugarzinho tipicamente francês, daqueles de insider mesmo, pra jantar com uns amigos que estavam na cidade, hospedados na casa de um amigo que mora em Paris já há alguns anos. Estava com uma sacola imensa da Disneyland Paris carregando minhas aquisições (na verdade eram duas sacolas porque eu não tenho expediente e comprei outras coisas também), Disney bounding de Woody muito feliz da minha vida.
Na hora de ir embora do bistrô (aliás vocês sabiam que bistrô é uma palavra derivada do russo?), notei que a francesa na mesa ao lado me julgava com todas as forças por estar com uma sacola tão grande da Disneyland Paris (tem muito bad blood na história da relação dos parisienses com a Disneyland Paris). Aos olhos dela, eu era uma completa ringarde. E aí eu olhei bem no fundo dos olhos dela, e sorri; ela podia me julgar o quanto quisesse, porque aquelas compras que eu fiz na Disney faziam (e fazem) todo sentido pra mim, e só isso verdadeiramente importa.